RIFANDO A CAUSA NEGRA EM TROCA DE VOTOS
Sob o falso manto de homenagem a gloriosa Frente Negra Brasileira, um grupo de negros equivocados e/ou meramente oportunistas usaram o ‘santo’ nome da FNB para angariar votos para os candidatos do governo, em Savador. Lançam mão de um dos maiores símbolos da luta negra no Brasil para colocar na rua uma campanha açodada, desesperada, eleitoreira e, por isso mesmo, desrespeitosa! Tantos corpos tombados nos últimos dias na mesma cidade não mereceram um milésimo dessa disposição negrista. A ausência de fóruns para debater e encaminhar nossas demandas continua sendo, na contemporaneidade, o grande túmulo do Movimento Negro (ah, no SINGULAR, por favor!). É daí, inclusive, que emerge a legião de candidatos que ano a ano vêm falar, por si mesmos, em nosso nome. Zumbis?Quisera fossem... É também dessa cova (ainda não soterrada, sonho eu) que surge agora essa triste convocação, mas que não fará revirar espíritos como os de José Correa Leite e Aristides Barbosa, impassíveis em sua dignidade.
Que negros e negras em movimento manifestem seu apoio aos candidatos Dilma. Rui e O... é um direito que lhes cabe. Não fecho os olhos, aliás, ao fato e ao salto da presença negra em esferas governamentais nos últimos anos, ainda que em lugares delimitados por um cerimonial branco, como convidados. Contudo, que não façam de nossas aspirações seculares, de nossos símbolos maiores muletas improvisadas para simplesmente tentar alavancar números de uma corrida eleitoral e eleitoreira. Não, senhoras e senhores, não. Homenagem à Frente Negra seria a convocação diuturna para rearticularmos nossas forças e fazer frente, por exemplo, ao genocídio da juventude negra.
Ficam aqui as palavras de Márcio Barbosa no artigo (ele também tem um livro sobre) “FRENTE NEGRA BRASILEIRA – Gestando um PROJETO político para o Brasil.*
“Nem sempre o protagonismo afro-brasileiro é lembrado de forma positiva ao longo da história. A nós os relatos oficiais geralmente reservam o papel de coadjuvantes nos grandes eventos, especialmente naqueles que ajudam a definir a situação sociopolítica do país.”
Lande
*Ver no site quilombhoje2.com.br
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
segunda-feira, 2 de junho de 2014
O BRANCO ANJO NEGRO
para a atriz Vera Lopes
Um texto dispensável, o
Anjo Negro DE Nelson Rodrigues, no contexto das celebrações dos 10 anos da CAN –
Compahia Teatral Abdias do Nascimento - e 100 anos de Abdias do Nascimento, através do imperdível e impecável Abriu de Leituras. Um texto onde, supostamente,
o autor denuncia o racismo, mas ele próprio vê e trata personagens negros como
apenas uma cor: pretos (e pretas). Não somos homens ou mulheres, mas o preto 1,
o preto 2, a preta 3... como também nos trata outros monstros (lato...não,
não deixa pra lá) da literatura brasileira - Fernando Sabino, Jorge
Amado, Herbert Sales, Rubens Fonseca e por aí vai. A preta fez isso, aí veio a
mulher, e fez aquilo. Não a branca, ou o branco veio, mas a Mulher, ou o Homem.
Não sois homens, pretos é que sois.
Nelson Rodrigues... o
anjo pornográfico... alcunha criada por ele mesmo, reunindo uma segunda ‘justa
oposição’ entre substantivo e adjetivo... como é caprichosa a intelectualidade
branca nacional.
O Núcleo Afrobrasileiro de Teatro de Alagoinhas, nosso NATA, foi lá e
fez (bem) o que pôde em termos de movimentação, adaptação, luz, figurino, mas o
texto em boa parte é um samba de branco (e de um nota só) – e a diretora
Fernanda Júlia nos confessou a todos que esbarrou nas limitações da visão de um branco
sobre nós, e sobre o racismo.
Então, tivemos o
preto, o tal preto (devo usar maiúscula?), o grande preto - ele era grande, frisa o autor. O preto que, eu diria,
inadvertidamente Nelson Rodrigues chamou de Ismael – e eu chamarei de preto 1.
Pois este preto 1 DE Nelson Rodrigues odeia ser preto. Odeia e pronto. E preto.
E ponto. Nasceu assim o desgraçado, trazendo o mal da cor, na cor. Brancos não
têm nada a ver com isso, tá vendo? Eles mesmos se discriminam e não gostam de si...
Além de o
tornar médico, o complexo e a inteligência do grande preto 1, só o ajudaram a cegar um jovem branco, que o tinha como irmão, uma adolescente branca, que o tinha como pai(!), violentar uma branca virgem (até no nome) e a ver como grande culpada pela sua
pele escura a própria mãe e seu ventre preto corrompido pela existência. Não
sei por que Nelson Rodrigues e SEU preto não culparam logo Deus, em
última instância o responsável por toda concepção. Ah, imagino: Deus é branco...
E anjo negro não existe.
Lande Onawale - 02/06/2014
domingo, 1 de junho de 2014

AFIRMATIVA REVISTA
...ainda sobre o número 1 da Revista Afirmativa - como se eu já tivesse dito algo rs - os textos ficaram muito bons. Enxutos e informativos, como pede o bom jornalismo, e também espirituosos, como pede o melhor jornalismo - sobretudo a reportagem de Morgana Damásio com o historiador Clíssio Santana. Assim como em outras páginas, textos onde a palavra flui, os trocadilhos não sobram, enfim, bons. "Paradoxalmente", na última reportagem, Clissio (ou a editoria) deixou de fora o 'espírito' de Esperança - ou alguém do lado de 'lá'... Se era segredo um certo episódio vivido por ele quando da descoberta do drama da jovem Esperança, escravizada no Recife,eu acabo de traí-lo. Em parte.
Menciono o fato, porque acredito que a dimensão espiritual, tal como acompanha um sem número de aspectos da nossa vida, deva acompanhar nosso trabalho acadêmico-científico. É ciência preta, afinal. It's felling!
As imagens e cores também gostei muito. Bem escolhidas - salvo a foto da reportagem 'Nome de Guerra'. Algo me pareceu insuficiente ali: a imagem ou a legenda... na outra página, aliás, a "melhor" imagem; a charge de Latuff e sua trágica precisão.
Vamos em frente - e ainda tem tanta coisa, coisa, né? Marcha Contra o Genocídio, Cinema, Teatro, Literatura, Racismo na Copa... (isso também vai ter, sim)
Parabéns, mais uma vez, família Afirmativa. Vida longa.
Lande Onawale - maio, 2014
segunda-feira, 21 de abril de 2014
Pegadas Racistas Na Terra Preta, Fétil e Bela - o documentário Lápis de Cor
"A caixa do lápis de cor brincando nas mãos de Deus. De repente, pinta gente de tudo que é cor de pele. Tão lindos e diferentes, que mesmo que Deus se mele, é divertido brincar."
(Fonte: http://www.portalaponte.com/)
PEGADAS RACISTAS NA TERRA PRETA, FÉRTIL E BELA
Embora ache que todos os assuntos, a
depender do modo, podem ser tratados com crianças, eu vez ou outra perco esta
certeza. Foi o caso, com o curta-metragem LÁPIS DE COR, de Larissa Fulana de Tal
Santos (movimento Tela Preta).
Quando vi as imagens, pensei que só
poderia colaborar ofertando a criança que trago em mim... Mas (mais) uma
criança tão machucada já não cabia. Era preciso o acolhimento adulto.
Retomei a convicção de que se você é
uma flor em um campo onde andam paquidermes de todos os tamanhos, não há como
ser somente bela e perfumada quando algo desperta uma lembrança esmagada,
quando a simples visão ou o som de grandes pisadas evocam a violência da
existência. Alguma coisa há que tremer dentro de si. Como milhões de crianças
não-brancas no Brasil e no mundo, assim são as crianças do Lápis. Quando esquecem
que são negras, são negras, lindas e alegres, quando lembram que são negras,
esquecem que são lindas, e lembram que são tristes - e, obviamente, soam confusas.
No documentário, é certo, falta-nos os paquidermes. Só vemos as suas pegadas. Profundas.
O filme também me dizia que a jovem
diretora, para além de questões de orçamento e condições de filmagem, devia ter
vivido o impulso e o drama entre mostrar corações sangrando, ou estancá-los
enquanto as tomadas eram feitas... Ela me pareceu ter optado pela primeira (e
tão difícil) opção, apostando, talvez, que a visão daqueles corações – mesmo
sangrando, e mesmo infantis – ainda tivesse algum poder de fazê-los gritar dentro
de quem os veriam... Larissa quis transformar música, luz, cores, e enquadramentos em
braços, olhares, cafunés, afagos e magia. Coube-nos, à equipe, segui-la. Penso que só uma mulher tomaria
essa contradição e risco nas mãos; ou melhor, no colo.
Depois de amanhã vocês me dizem se estou certo...
(Lande Onawale)
terça-feira, 11 de março de 2014
FISSURA NUCLEAR (FUKUSHIMA)
para e por Luís Carlos Oliveira
à fúria do útero da terra
seguiu-se a fúria do núcleo
de
um infinitésimo grão de areia
e essa ira liberta
em chamas
engoliu as chuvas dos homens
e as devolveu águas alteradas, mortíferas
no ar, uma antípoda bomba,
que sem alarde faz tudo arder
fúria mansa que se lança
voraz e corrosiva
ao âmago de tudo... que espera...
lá, no seio de mulheres em pranto
no centro do inexplicável
o homem
calado
impotente
- a ciência não tem um plano “b”
Há três
anos, portanto, me dei a pensar – e a chorar, talvez, não lembro – no que
aquele acidente significava não só para aquelas humanidades ali, num pedaço do
oriente, mas para todas as outras, ao redor dos oceanos, absolutamente
susceptíveis, vulneráveis a potências tão mínimas daquela mesma energia... acima,
o que acho que me cabia à época, e abaixo uma versão em inglês feita pelo
Senhor Gregory Rabassa e pela professora Peggy Sharpe - com a licença da
professora Rachel Luciana de Souza, que o traduziu no meu livro ‘Kalunga’ .
Logo a seguir, vem o poema de Luís Aseokaynha, sobre a mesma tragédia, e que
inspirou imediatamente o meu... Luís, dono de uma escrita de crueza, requinte e
beleza raras.
NUCLEAR FISSURE (FUKUSHIMA)
the fury of the womb of earth
was
followed by the fury of the
nucleus
of an
infinitesimal grain of sand
and this rage set free
in flames
swallowed the rains of men
and gave back as altered
waters
in the air, a bottom bomb
which without much fuss turns
everything to fire
a gente fury that hurls itself
voracious and corrosive
at the core. . . waiting
there, in the bosom of weeping
women
in the center of the
inexplicable
man
silent
impotent
- science has no plan “b”
Translator’s
note: The word “fissure” in Portuguese can be used as slang for infatuation.
Março de 2011
Março de 2011
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
para Kaique Augusto Batista dos Santos, jovem paulistano, morto em 11/01/2014,
para Rose, e Ivana Sol.
Para Alile Dara Onawale, filha que segue para a terra de Kaique, São Paulo...
Em 2008, no Terreiro Tanuri Junsara, ao ser apresentado ao assentamento de Hoji Mukuumbi (Rôji Mukumbi),
o poeta Oliveira Silveira me falou de Hoji-ya-Henda.
Nestes dias, tenho buscado a fibra dos três...Como diz uma poeta: espada à espreita, sigamos.
Hoji-ya-Henda
O patrono da juventude angolana

O camarada José Mendes de Carvalho, o célebre Comandante Hoji-ya-Henda, apelido de guerra que, em português, significa “Leão do Amor”, nasceu em N’dalatando, província do Cuanza-Norte, aos 29 de Julho de 1941.
O pai, Agostinho Domingos de Carvalho, era enfermeiro auxiliar e a mãe, Florinda de Carvalho, era doméstica.
A família viveu em N’dalatando e, depois, em Bula Atumba. O casal Carvalho vivia na companhia de seis filhos, dos quais José Mendes de Carvalho era o mais-velho.
Os pais pertenciam à Igreja Metodista Unida de Angola, tal como José Mendes de Carvalho, que fazia parte da Juventude da Igreja Cristã em Angola (JICA) e do seu grupo coral.
O camarada José Mendes de Carvalho, o célebre Comandante Hoji-ya-Henda, apelido de guerra que, em português, significa “Leão do Amor”, nasceu em N’dalatando, província do Cuanza-Norte, aos 29 de Julho de 1941.
O pai, Agostinho Domingos de Carvalho, era enfermeiro auxiliar e a mãe, Florinda de Carvalho, era doméstica.
A família viveu em N’dalatando e, depois, em Bula Atumba. O casal Carvalho vivia na companhia de seis filhos, dos quais José Mendes de Carvalho era o mais-velho.
Os pais pertenciam à Igreja Metodista Unida de Angola, tal como José Mendes de Carvalho, que fazia parte da Juventude da Igreja Cristã em Angola (JICA) e do seu grupo coral.
Integrado muito jovem nas fileiras do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), o Comandante Hoji-ya-Henda morreu, em combate, no dia 14 de Abril de 1968, aos 26 anos de idade, quando liderava um ataque guerrilheiro ao quartel das tropas coloniais em Karipande, na província do Moxico.
Naquele dia, cerca das 17 horas, o Comandante Henda entendeu que devia passar ao assalto e, levantado-se corajosamente, cortou o arame da vedação e mandou avançar os guerrilheiros. As suas últimas palavras foram: “Avancem guerrilheiros!” e, de seguida, foi atingido na cabeça, por uma bala.
O seu corpo foi recuperado debaixo de fogo inimigo, transportado e sepultado nas proximidades do rio Lundoji, perto de Karipande, localidade do actutal município do Alto Zambeze, na província do Moxico.
Como reconhecimento e homenagem ao intrépido Comandante Hoji-ya-Henda, a 1ª Assembleia do MPLA, da Frente Leste, realizada de 25 a 28 de Agosto de 1968, atribuiu-lhe o título póstumo de “FILHO QUERIDO DO POVO ANGOLANO E COMBATENTE HERÓICO DO MPLA”.
Herói Nacional, ele é o patrono da juventude angolana.
A data da sua morte, 14 de Abril, é comemorada, todos os anos, como o Dia da Juventude Angolana.
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