terça-feira, 11 de março de 2014

FISSURA NUCLEAR (FUKUSHIMA)



                                                                        para e por Luís Carlos Oliveira

 à fúria do útero da terra
seguiu-se a fúria do núcleo
                                   de um infinitésimo grão de areia
e essa ira liberta
em chamas
engoliu as chuvas dos homens
e as devolveu águas alteradas, mortíferas
no ar, uma antípoda bomba,
que sem alarde faz tudo arder
fúria mansa que se lança
voraz e corrosiva
ao âmago de tudo... que espera...

lá, no seio de mulheres em pranto
no centro do inexplicável
o homem
calado
impotente

- a ciência não tem um plano “b”


Há três anos, portanto, me dei a pensar – e a chorar, talvez, não lembro – no que aquele acidente significava não só para aquelas humanidades ali, num pedaço do oriente, mas para todas as outras, ao redor dos oceanos, absolutamente susceptíveis, vulneráveis a potências tão mínimas daquela mesma energia... acima, o que acho que me cabia à época, e abaixo uma versão em inglês feita pelo Senhor Gregory Rabassa e pela professora Peggy Sharpe - com a licença da professora Rachel Luciana de Souza, que o traduziu no meu livro ‘Kalunga’ . Logo a seguir, vem o poema de Luís Aseokaynha, sobre a mesma tragédia, e que inspirou imediatamente o meu... Luís, dono de uma escrita de crueza, requinte e beleza raras.

NUCLEAR FISSURE (FUKUSHIMA)

the fury of the womb of earth was
followed by the fury of the nucleus  
                                            of an infinitesimal grain of sand
and this rage set free
in flames
swallowed the rains of men
and gave back as altered waters
in the air, a bottom bomb
which without much fuss turns everything to fire
a gente fury that hurls itself
voracious and corrosive
at the core. . . waiting
there, in the bosom of weeping women
in the center of the inexplicable
man
silent
impotent

- science has no plan “b”

Translator’s note: The word “fissure” in Portuguese can be used as slang for infatuation.

Março de 2011

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