para e por Luís Carlos Oliveira
à fúria do útero da terra
seguiu-se a fúria do núcleo
de
um infinitésimo grão de areia
e essa ira liberta
em chamas
engoliu as chuvas dos homens
e as devolveu águas alteradas, mortíferas
no ar, uma antípoda bomba,
que sem alarde faz tudo arder
fúria mansa que se lança
voraz e corrosiva
ao âmago de tudo... que espera...
lá, no seio de mulheres em pranto
no centro do inexplicável
o homem
calado
impotente
- a ciência não tem um plano “b”
Há três
anos, portanto, me dei a pensar – e a chorar, talvez, não lembro – no que
aquele acidente significava não só para aquelas humanidades ali, num pedaço do
oriente, mas para todas as outras, ao redor dos oceanos, absolutamente
susceptíveis, vulneráveis a potências tão mínimas daquela mesma energia... acima,
o que acho que me cabia à época, e abaixo uma versão em inglês feita pelo
Senhor Gregory Rabassa e pela professora Peggy Sharpe - com a licença da
professora Rachel Luciana de Souza, que o traduziu no meu livro ‘Kalunga’ .
Logo a seguir, vem o poema de Luís Aseokaynha, sobre a mesma tragédia, e que
inspirou imediatamente o meu... Luís, dono de uma escrita de crueza, requinte e
beleza raras.
NUCLEAR FISSURE (FUKUSHIMA)
the fury of the womb of earth
was
followed by the fury of the
nucleus
of an
infinitesimal grain of sand
and this rage set free
in flames
swallowed the rains of men
and gave back as altered
waters
in the air, a bottom bomb
which without much fuss turns
everything to fire
a gente fury that hurls itself
voracious and corrosive
at the core. . . waiting
there, in the bosom of weeping
women
in the center of the
inexplicable
man
silent
impotent
- science has no plan “b”
Translator’s
note: The word “fissure” in Portuguese can be used as slang for infatuation.
Março de 2011
Março de 2011
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